sexta-feira, 10 de abril de 2009

SOMOS

Às vezes, tenho a nítida impressão que muitas coisas que vivemos são mecânicas. Sinto que nascemos, crescemos, trabalhamos, reproduzimos e morremos, como se fosse realmente isso nossa missão. Esquecemos que amamos, odiamos, detestamos, nos apaixonamos, sentimos saudades, esquecemos da outra pessoa como se esquece do almoço do dia passado, conseguimos amigos fiéis, infiéis, traímos, somos traídos, comemos jamelão, nos angustiamos, nos alegramos, beijamos, somos beijados, nos beijamos, declaramos amor, nos declamam poesias, recebemos bilhetes amorosos, damos flores, somos safados, queremos ser santos, nos convertemos, esquecemos nossos passados absurdos, torcemos por algum time, detestamos algum time (de preferência rubro-negro), ouvimos rádio, dançamos ao som das músicas mais bobas, declaramos guerra ao Latino, assistimos filmes americanos, desejamos filmes nacionais, bebemos vinho em adegas, comemos bacalhau, detestamos o Eurico Miranda, sabemos que Garrincha é rei, somos lindos, nos achamos feios, lavamos roupas, deixamos roupas jogadas no banheiro, gostamos de samba, dizemos que somos eruditos, somos História, vivemos pré-história, somos brasileiros, queremos ser estrangeiros, não desistimos nunca, na primeira oportunidade desistimos, amamos as praias do Nordeste, freqüentamos Ipanema e Arpoador, dormimos cedo demais, assistimos Jô todas as noites, recebemos e-mail´s, encaminhamos e-mail´s, dormimos com ventiladores barulhentos ligados, reclamamos dos mosquitos, vamos dormir com roupas furadas, queremos ser chiques até mesmo dormindo, escola de samba é verde e branco de Ramos, escola de samba é azul e branco de Madureira. Participamos de muitas coisas que traspassam a coerência do nascer, crescer, trabalhar, reproduzir e morrer.

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