sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Se os Tubarões Fossem Homens

Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias, cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim que não morressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos. Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações. Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre sí a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros. As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos Da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões. A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos .Também haveria uma religião ali.Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas e assim por diante. Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

Sobre o(a) autor(a):
Bertold Brecht (1898-1956), nascido em Augsburgo. Escritor e dramaturgo alemão, além de grande teórico teatral. Desde menino escrevia poesias de forte conteúdo social. Foi perseguido pelos nazistas pelo seu comunismo militante.

Paradoxos

Dou-me de presente todas as idéias. Só não me dou de presente a idéia de infinito. Não me acostumei em vida a justificar qualquer hierarquia, não me acostumei a pensar a desigualdade. A relação do homem com o infinito não passa pelo campo do saber. O infinito é um desejo que se nutre de sua própria fome de... infinito!Eu, um metafísico?! De jeito nenhum. Encantam-me os paradoxos. Ou melhor: sou vítima dos paradoxos. Se levanto o punhal para assassiná-los, os paradoxos zombam de mim. Quanto mais zombam de mim, mais os admiro, por sua inconsistência sedutora. Ah! Os paradoxos!... Tento corrigi-los. Ossos do ofício de quem foi um dia revisor de jornal!

Sobre o(a) autor(a):
Nasceu em Quebrângulo, AL (1892-1953). Chegou a ser prefeito da pequena cidade de Palmeira dos Índios, AL. Sempre preocupado com problemas do ensino no Brasil. Preso em 1936 sob suspeita de ligação ao PCB. Principal romancista da 2ª fase do Modernismo.

2008: 120 ANOS DO NASCIMENTO DE FERNANDO PESSOA.A alma humana é um manicômio de caricaturas.Se uma alma pudesse revelar-se com verdadeE nem houvesse um pudor mais profundo que todas as vergonhas conhecidas, definidasSeria, como dizem, da verdade o poço.Mas um poço sinistro, cheio de ecos vagos, habitado por vidas ignóbeis, viscosidades sem vida, lesmas sem ser. Ranho da subjetividade. Eis a alma.

Sobre o(a) autor(a):
Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa/Portugal.É considerado um dos mais importantes poetas modernistas.Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.

O escritor vive. Ninguém é escritor das oito ao meio-dia e das duas às seis. Quem é poeta é poeta sempre, e se vê continuamente assaltado pela poesia. Assim como o pintor é assediado pelas cores e pelas formas, assim como o músico se sente procurado pelo estranho mundo dos sons (o mundo mais estranho das artes), o escritor deve pensar que tudo é argila, com que fará da miserável circunstância de nossa vida alguma coisa que possa aspirar à eternidade.Sobre o(a) autor(a):Jorge Luis Borges é argentino, mas sua literatura teve forte influência dos autores ingleses. Nas poesias e ensaios, a biblioteca de seu pai é uma referência constante.

Sobre o(a) autor(a):
Jorge Luis Borges é argentino, mas sua literatura teve forte influência dos autores ingleses. Nas poesias e ensaios, a biblioteca de seu pai é uma referência constante.